No MASP: o olhar de Agostinho Batista de Freitas sobre uma São Paulo de outrora

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O MASP exibe obras de Agostinho Batista de Freitas que retratam o prédio do museu e a icônica arquitetura de São Paulo, através de vistas urbanas da capital, realizadas entre os anos 1950 e 1990. A exposição reúne 74 trabalhos do artista paulista, marcando seu ternor ao MASP após mais de sessenta anos desde sua última grande exposição no Museu, em 1952. A mostra pode ser vista até o dia 9 de abril de 2017, no segundo subsolo do museu.

Saiba mais, a seguir.

Exposição: Agostinho Batista de Freitas

Agostinho Batista de Freitas, São Paulo é a primeira exposição monográfica do artista organizada por uma instituição brasileira em mais de 25 anos. A curadoria é de Fernando Oliva e Rodrigo Moura, curador e curador-adjunto de arte brasileira do MASP, respectivamente. Ambos realizaram uma ampla pesquisa sobre sua obra, localizando mais de 300 trabalhos em cerca de 50 coleções e acervos diferentes, além de raros documentos, fotografias e croquis feitos pelo artista, e agora reproduzidos no catálogo da mostra.

Pintor autodidata e eletricista de profissão, Agostinho Batista de Freitas (Paulínia, São Paulo, Brasil, 1927 – São Paulo, Brasil, 1997) trabalhou no campo até vir para São Paulo, aos 11 anos. No início dos anos 1950, enquanto vendia seus trabalhos no centro da cidade, conheceu Pietro Maria Bardi (1900-1999), diretor fundador do MASP. Na ocasião, Bardi comissionou uma pintura que retratasse a metrópole vista do topo do icônico prédio do Banespa (Banco do Estado de São Paulo), obra que a seguir exibiria na primeira individual de Batista de Freitas, realizada no MASP, em 1952.

Agostinho Batista de Freitas, Edifício São Tomás e Edifício Itália, 1979, acervo MASP. Image via MASP

Batista de Freitas produziu inúmeras obras de locais emblemáticos de São Paulo, incluindo o Teatro Municipal, a Catedral da Sé, o Edifício Itália e o MASP, além de outros projetos de Lina Bo Bardi como o Sesc Pompeia e a Casa de Vidro. Do Museu, ele criou diversas pinturas, tanto do prédio quanto de seu entorno, em diferentes ângulos, registrando, por exemplo, as atividades no Vão Livre, que em 1972 foi ocupado pelo Circo Piolin, além dos transeuntes da avenida Paulista.

Suas referências vinham tanto da observação direta da paisagem urbana quanto da fotografia, fosse uma imagem de Marcel Gautherot, fotos de publicidade ou cartões-postais vendidos em bancas de jornal – materiais descobertos durante a pesquisa.

Agostinho Batista de Freitas, Vista de São Paulo, 1970, coleção particular. Image via MASP
Agostinho Batista de Freitas, Anhangabaú, 1991, coleção Marcy Junqueira. Image via MASP

No percurso da mostra, a relação de Batista de Freitas com a cidade se faz presente mediante os diversos agrupamentos de obras, que vão desde a representação do MASP até as vistas aéreas do centro de São Paulo, passando por cenas do cotidiano na Zona Norte, onde o artista vivia, e situações coletivas de diferentes naturezas, que incluem as viagens, as festas, os divertimentos e as manifestações religiosas. Instalada em uma expografia do METRO Arquitetos, originalmente projetada por Lina Bo Bardi, que permite um contato direto e aberto dos visitantes com os trabalhos, a obra de Batista de Freitas convida a uma visão ativa sobre São Paulo, com suas complexas dinâmicas urbanas, histórias e diferenças sociais.

Batista de Freitas participou da 33 a Bienal de Veneza, em 1966, representando o Brasil ao lado de artistas estabelecidos, como Arthur Luiz Piza (1928) e Sergio Camargo (1930-1990). O fato de ele ter mostrado suas obras no MASP (1952), na Bienal de Veneza (1966) e na Pinacoteca do Estado de São Paulo (1990) não parece ter sido decisivo para uma consolidação de sua trajetória institucional no Brasil – o que de fato não aconteceu.

Agostinho Batista de Freitas, MASP, 1971, acervo MASP. Image via MASP
Agostinho Batista de Freitas, Circo Piolim no vão do MASP, 1972, acervo MASP. Image via MASP

Fernando Oliva ressalta que esta questão fez parte das preocupações da curadoria durante a pesquisa que culminou com a exposição: “Na retomada atual que o MASP promove da produção de Batista de Freitas, uma das perguntas decisivas que temos de nos fazer é: como lidar, hoje, com a obra de um artista que, em grande parte por ser considerado um criador da chamada ‘arte popular’, sempre precisou que outros falassem em seu nome?

Rodrigo Moura sublinha que a exposição marca um importante posicionamento da atual direção artística do MASP, que deseja problematizar os conceitos de arte erudita e popular por meio de sua programação, com diferentes estratégias. Entre elas, destacam-se a remontagem de uma das mais célebres e polêmicas exposições organizadas pelo Museu, como "A mão do povo brasileiro", concebida por Lina Bo Bardi (1914-1992), Glauber Rocha (1939-1981) e Martim Gonçalves (1919-1973); a realização de mostras que privilegiam a leitura de temas populares no modernismo canônico brasileiro.

Agostinho Batista de Freitas, Grupo escolar, 1976, acervo MASP. Image via MASP

O interesse artístico de Pietro e Lina Bo Bardi

Segundo os curadores da exposição, a presença de um nome como o de Batista de Freitas no MASP, desde o passado até os dias de hoje, deve ser entendida, inicialmente, no contexto dos interesses de Pietro e Lina Bo Bardi, que não viam esse tipo de trabalho como algo separado das demais manifestações artísticas. As perspectivas do casal sempre foram marcadas pela tentativa de um entendimento mais profundo e generoso sobre o Brasil, uma vez que ambos viam na chamada ‘arte popular brasileira’ uma experiência ampla, que trazia consigo a possibilidade de libertação das hierarquias rígidas da história da arte e seu sistema. Nesse sentido, a mostra pretende dar visibilidade a Agostinho Batista de Freitas na história da arte brasileira do século 20 como um artista único, de visão singular.

Agostinho Batista Freitas, Avenida Paulista 1986, acervo SESC de Arte Brasileira. Image via MASP

SERVIÇO

AGOSTINHO BATISTA DE FREITAS, SÃO PAULO

Data: 10 de dezembro a 9 de abril de 2017
Local: 2º subsolo do MASP
Endereço: Avenida Paulista, 1578, São Paulo, SP
Horários: terça a domingo: das 10h às 18h (bilheteria aberta até as 17h30); quinta-feira: das 10h às 20h (bilheteria até 19h30)
Ingressos: R$30,00 (entrada); R$15,00 (meia-entrada)

- O MASP tem entrada gratuita às terças-feiras, durante o dia todo.
- Durante Janeiro o museu também abrirá suas portas na segunda-feira.
- O ingresso dá direito a visitar todas as exposições em cartaz no dia da visita.

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Sobre este autor
Cita: Victor Delaqua. "No MASP: o olhar de Agostinho Batista de Freitas sobre uma São Paulo de outrora" 08 Jan 2017. ArchDaily Brasil. Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/802889/no-masp-o-olhar-de-agostinho-batista-de-freitas-sobre-uma-sao-paulo-de-outrora> ISSN 0719-8906

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